26 de outubro de 2014

Sobre o 1º Encontro "Lady's Comics"

Já estive presente em um número considerável de colóquios, congressos, encontros e jornadas sobre histórias em quadrinhos. Desde 2011, apresentei trabalhos ou apenas ouvi os colegas em eventos em São Paulo, Leopoldina (MG), no Rio, em Brasília, em São Leopoldo (RS) e, graças a uma oportunidade que tive, vi também um encontro sobre hq em Glasgow. Mas posso afirmar que nunca presenciei algo como o evento ocorrido no dia 25 de outubro, no centro universitário UNA em Belo Horizonte: o Primeiro Encontro Lady's Comics: "Transgredindo a representação feminina nos quadrinhos", idealizado pelo site, já muito conhecido entre os interessados na área, ladyscomics.com.br. Tentarei falar aqui, de modo resumido, o porquê de meu deslumbramento. 

Apoiado coletivamente no Catarse pelo seu próprio público em potencial e por parceiros como a Editora Nemo, o evento recebeu convidadas como Chiquinha, Cynthia Bonacossa, Ana Luiza Khoeler, Cris Peter, Lu Cafaggi, Natânia Nogueira, e as meninas da nova leva de zines: Sirlanney, Gabi lovelove6, Beatriz Lopes, entre outras. As discussões, divididas entre três mesas e um debate ao longo de todo o dia 25, abordaram os seguintes temas: quadrinhos e erotismo, personagens femininas, a possível transgressão na representação feminina e o papel da mídia (e a escolha das mídias usadas) para tal transgressão. As convidadas (e os convidados Lucas Ed. e Afonso Andrade) discorreram sobre seus trabalhos, suas pesquisas e suas experiências pessoais com a produção de quadrinhos, a recepção do público e a discussão de tais materiais -- e quais as implicações, em tais questões, de ser mulher e produzir sobre mulheres. O evento também contou com um painel, no qual algumas participantes falaram sobre a sua obra ou a sua pesquisa (neste momento pude falar da minha pesquisa sobre a Alison Bechdel).

Algo que fez toda a diferença foi ver mulheres em todas as mesas, ao contrário do que se costuma ver em eventos de quadrinhos: durante a programação inteira, uma mesa separada para o "gueto" das mulheres. Este fator foi comentado em diversos momentos, e foi reconhecido que a última edição do FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos, também em BH) já se esforçou em reparar tal erro. Fiquei admirada com, mais que a presença massiva de mulheres nas mesas e na plateia, a interação entre elas. Foi criado um espaço saudável para o debate e, na medida do possível (também pelo pouco tempo de evento), a voz foi dada a todas. Eu já sabia que muitas mulheres fazem quadrinhos no Brasil e fora dele, mas enxergar materialmente um grande número delas (e lembrar que muitas também não puderam estar presentes) foi incrível. Senti falta do enfoque em algumas questões, como a representatividade da mulher trans. No entanto, houve oportunidade também para, ao final do encontro, apontarmos alguns de seus defeitos e planejarmos o próximo. Uma certeza unânime com a qual se terminou o dia foi de que este encontro já nasceu para tornar-se fixo no calendário brasileiro de discussões sobre os quadrinhos e sobre a maneira como a mulher é representada neles. 

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