11 de agosto de 2012

Chris Ware

Vamos lá. Um pouco de Wikipédia em nossas vidas não faz mal:
Franklin Christenson Ware, estadunidense, é um quadrinista cuja obra explora temas como isolamento social, tormentos emocionais e depressão. Seus trabalhos mais notáveis são a série Acme Novelty Library, publicada pela Fantagraphics e depois auto-publicada, e Jimmy Corrigan, o garoto mais esperto do mundo, lançado no Brasil pela Quadrinhos na Cia, na tradução do Daniel Galera. Abaixo deixo um pequeno texto que escrevi sobre o Jimmy Corrigan logo depois de lê-lo, ainda estarrecida.


Jimmy Corrigan somos nós

"Emma Bovary, c'est moi" - É a singular frase de Gustave Flaubert, declarando seu amor e sua quase-total identidade com a personagem mais famosa de sua criação. Esta associação, que se faz clara apenas por uma declaração do próprio autor (enquanto sua ficção, antes desta certeza dada por seu criador, parecia pairar livremente), é feita, também, quando lemos a penúltima página de Jimmy Corrigan, em que Chris Ware ressalta algumas semelhanças entre a história do "garoto mais esperto do mundo" e sua própria história, com foco na relação com o pai. 

Tudo que consigo pensar, apesar de não ser Chris Ware é: Jimmy Corrigan, c'est moi. Se você espera por uma análise formal/estrutural/teórica do quadrinho (como muitos acadêmicos já fizeram), sinto em desapontá-lo, mas não consigo escrever racionalmente sobre algo que me afetou tanto, e de modo tão inesperado. As letrinhas miúdas e os vários quadradinhos assustam a princípio, mas antes que perceba o leitor mergulha em sua própria incompreensão e se deixa levar – por um livro cujo personagem principal é a materialização de tudo que não é sedutor. 



Aquelas cores cruas, personagens simplesmente desenhados em contraste com belos cenários, de uma desenvoltura que prende o leitor por mais de alguns míseros segundos nas páginas com magníficas construções, edifícios, esqueletos urbanos sabiamente entrelaçados... Aquele livro horizontal, que à primeira vista causa estranhamento, descansa confortavelmente no colo enquanto demoramos para virar suas páginas. O mar de palavras, por todos os lados, dentro e fora dos balões, dentro e fora dos requadros, numa ânsia terrível de contribuir para alguma inteligibilidade quando, na verdade, o que há é angústia, frustração e inconsciente (não precisamos de palavras, mas precisamos também, sem dúvida, do excesso delas). A terrível necessidade de preencher cada canto, alcançar o ponto antes do irredutível (os quadros minúsculos, resultados de múltiplas divisões, quase indecifráveis), a ilusão de não haver vazio. O incorporar a criança, enquanto a personagem que de fato é criança aprende, desde cedo, a ser adulta através do sofrimento. O ato, quase sem volta, de perder-se nos próprios pensamentos - ou melhor, perder-se no limite entre o que vivemos e o que pensamos. O barulho mental e a calmaria do lado de fora. Jimmy Corrigan sou eu, Jimmy Corrigan somos nós.